Há um problema em ver filmes bons antes de ler os bons livros nos quais se inspiram.
Por exemplo, As Horas de Stephen Daldry, A Casa dos Espíritos de Bille August, O Leitor também de Stephen Daldry, são exemplos de filmes que me marcaram e que dificultam a leitura dos livros de Michael Cunningham, Isabel Allende e de Bernard Schlink. O que é indecente.
Ensombram a leitura. E a culpa é da fotografia, das paisagens e pior que tudo, do estupendo trabalho dos actores.
Ao ler, temos a maravilhosa e única oportunidade de sermos nós os realizadores, os directores de fotografia, os compositores da banda sonora. Tendo o filme muito presente, é-nos impingido sem querermos a Glenn Close para o papel de Férula Trueba, Meryl Streep para o de Clarissa e o de Kate Winslet para Hanna Schmitz, e, no caso de A Casa Dos Espíritos, o Alentejo e Lisboa na repérage.
E eu não quero!!! Quero escolher os MEUS actores, cria-los a partir da leitura, imaginar as MINHAS paisagens e tudo a que tenho direito, sem ser influenciada pelo filme.
Enfim, é uma luta quase inglória, mas cá tenho os livros que inspiraram filmes que vi e estou à espera pacientemente de esquecer o suficiente uns para ler os outros.
Senti que já estava preparada para ler As Horas, e estava. E ainda bem que me arrisquei. No entanto lutei, lutei e lutei para não ver a Meryl Streep na Clarissa nem a Julianne Moore em Laura... até que desisti. Paciência. Pelos vistos, actrizes como estas não estão mesmo destinadas ao esquecimento.
É indecente.