domingo, 15 de janeiro de 2012

Ver

    Na semana passada, tendo uma horinha entre trabalhos e estando mais-ou-menos-quase de passagem pela Avenida de Berna, dei um salto à Gulbenkian para ver a exposição da natureza-morta. Claro que já não estava. Esteve dois meses e tal e consegui ir na semana seguinte. Óptimo. Então fui ver o que havia para ver. Não conhecia o trabalho e na verdade nem o nome de Doris Salcedo e na minha pressa ignorante de sociedade fast food, "'bora lá que só tenho 45 minutos", passei pela sala de Plegaria Muda, pensei "que desperdício de madeira" e segui para Paisagem. Obras do século XX, principalmente de artistas portugueses, saliento as de Francis Smith (como essa coisa mais bonita aí em baixo), de Amadeo de Souza Cardoso e uma pintura linda de Jorge Barradas que podem espreitar aqui.

Francis Smith
 Sem Título, s.d.

      E lá vou eu embora, contente (não histérica que a exposição não dá para tanto) passando, só porque não havia outro caminho, pela obra de Doris Salcedo, com a mesma atitude anterior. Mas ao sair, paro para ler o texto de Plegaria Muda. Li. Voltei para a sala pela qual tinha passado arrogantemente e olhei com outros olhos. A perspectiva mudou. Agora pensava "que desperdício de vidas" e prestei-lhes a minha homenagem através da homenagem de Salcedo. E depois, já não arrogante nem apressada, sentei-me tranquilamente a ver o pequeno filme documentário. Recomendo.
      Demorei mais do que os 45 minutos planeados, mas saí mais crescida. E a lembrar-me que não basta olhar, há-que ver. Mesmo sendo um cliché, é tão difícil de cumprir, imaginem se não fosse.

As exposições Plegaria Muda Paisagem: na Gulbenkian até ao próximo domingo.