Nada como uma viagem de comboio para começar a semana. A possibilidade de ter tempo para pensar em tudo ou em absolutamente nada, simplesmente deixar a paisagem passar pelos nossos olhos e libertar a cabeça para poder passear por lugares diferentes, que bem precisa!
O nosso país é tão bonito visto da janela de um comboio. Qualquer país, na verdade. Desde que fiz um inter-rail pela europa, armada em teenager freak mas em versão mid 20's, que me apercebi do mágico que é espiar um país através da janela de um comboio. Espiar as suas paisagens, as encostas, os lagos, rios, campos, as pequenas e as grandes cidades, as pessoas que entram e saem ou que esperam nas estações.
O percurso dos comboios não tem nada a ver com o das auto-estradas. É mais escondido, mais selecto. Fico sempre com vontade de fazer a viagem de comboio para o Algarve, quando passo por algumas linhas férreas na auto-estrada atribulada, fico sempre com inveja dos caminhos alternativos que seguem, enquanto eu sigo em frente, sempre em frente pela monótona língua cinzenta picotada de branco. O comboio grande, imponente, decidido, transmite uma segurança que um automóvel não consegue. E vai sozinho, não há condutores de domingo a empatar, velhotes cheios de boa vontade mas que cometem as maiores inconsciências, cromos da velocidade, dos máximos e dos colanços ao nosso rabiosque, vulgo pára-choques traseiro.
Sinto-me portuguesa hoje. Gostava de ter trazido um dos diários de Miguel Torga. Não me lembrei. Trouxe Crónica de uma Morte Anunciada, do Gabriel García Márquez. Enfim, tenho uma costela para essas bandas, também serve. Trouxe-o numa decisão rápida (coisa rara, normalmente fico quase tanto tempo a decidir que livros levar como a decidir a roupa), por achar que era um livro que conseguiria ler na viagem. Gosto de livros que se lêem numa viagem. É a melhor companhia.
E que companhia que este me está a fazer. Acho que nos vamos tornar grandes amigos.
Eis-me chegada ao Porto. Ansiosa pela viagem de volta.